Falhas na audição podem indicar doença de Parkinson

Pesquisa mostra que pessoas sem histórico da doença, quando têm perda de audição podem apresentar sintomas

O cotidiano é repleto de pequenos prazeres que ajudam a levar a vida adiante, como ouvir o canto dos pássaros na alvorada ou escutar os filhos chamarem pelo seu nome. Recentemente, pesquisadores descobriram novos mecanismos para verificar a audição e como ela se forma.

Os sons são convertidos em sinais elétricos – (crédito: Freepik)

O mesmo estudo revela como a dificuldade para escutar pode estar relacionada à indicação de algumas doenças. A relação entre a perda auditiva e o aumento do risco de desenvolver a doença de Parkinson foi investigada a fundo pela Universidade Lancaster, na Inglaterra.

Para o trabalho, publicado na revista Parkinsonism and Related Disorders, os cientistas analisaram o UK Biobank, um banco biomédico que armazena informações de voluntários. Eles examinaram os dados de 159.395 pessoas que fizeram testes auditivos para medir a capacidade de detectar fala e não tinham histórico de Parkinson no momento da avaliação.

Ao longo do acompanhamento, que durou em média 14 anos, 810 participantes foram diagnosticados com Parkinson. A análise revelou que a cada aumento de 10 decibéis na deficiência auditiva inicial, o risco de desenvolver a doença subiu 57%. Megan Rean, pesquisadora de pós-doutorado e líder do estudo, ressaltou a importância dos resultados.

“Este é um dos primeiros estudos a investigar como as deficiências auditivas podem aumentar o risco de Parkinson ou servir como um sinal de alerta precoce. Como nossos resultados sugerem, a perda auditiva está intimamente relacionada ao Parkinson, podendo ser benéfico considerar o funcionamento auditivo e o manejo da deficiência auditiva no diagnóstico e no acompanhamento.”

Conexões

Para Christopher Plack, professor da instituição e coautor da pesquisa, “está cada vez mais claro que a perda auditiva não é uma condição isolada, mas está associada a várias outras doenças. Compreender essas conexões é vital para oferecer um atendimento eficaz aos pacientes.” Ao identificar fatores, os pesquisadores esperam abrir caminho para novas estratégias de prevenção e cuidados. “Nossos resultados sugerem que a deficiência auditiva está intimamente relacionada ao Parkinson e destacam os benefícios potenciais de abordar o funcionamento auditivo no diagnóstico e acompanhamento do Parkinson”, afirmaram.

Conforme Marco Túlio Cintra, geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), a relação entre perda auditiva e doença de Alzheimer é melhor estabelecida, sabe-se que ter perda auditiva, definitiva ou transitória, a partir da vida adulta, aumenta o risco de Alzheimer. “Isso tem vários motivos, inclusive, a perda de estímulo do ambiente. A pessoa para de ouvir determinados estímulos, causa inflamação, levando a maior risco de demência e de desenvolver a fisiopatologia da doença.”

“Já esse trabalho sobre Parkinson mostra uma associação, não determina que perda auditiva tem relação com o desenvolvimento da doença. Vamos precisar de mais estudos para definir, com a metodologia adequada, com o acompanhamento prospectivo, para definir se é realmente um fator de risco”, completou Cintra.

Sons 

Em outra linha de pesquisa, cientistas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, descobriram um conjunto sofisticado de “modos” dentro da orelha humana, que cria restrições importantes sobre como o ouvido amplifica sons fracos, tolera explosões de ruído e distingue frequências sonoras. Utilizando  modelos matemáticos em uma maquete da cóclea  — órgão em espiral no ouvido interno —, os cientistas descobriram uma nova perspectiva sobre a capacidade e precisão da audição humana.

Nos humanos, os barulhos são convertidos em sinais elétricos na cóclea, permitindo que as pessoas detectem sons com frequências em três ordens de magnitude e mais de um trilhão de vezes em potência. Quando as ondas sonoras entram na cóclea, elas viajam ao longo da membrana basilar —estrutura que classifica as frequências sonoras—, coberta por células ciliadas.

“As células ciliadas nesse local informam ao cérebro qual tom você está ouvindo”, explicou Asheesh Momi, estudante de pós-graduação e primeiro autor do estudo. Essas estruturas também funcionam como amplificadores mecânicos. A equipe de Yale descobriu um segundo conjunto de modos dentro da cóclea. Grande parte da membrana basilar reage e se move de forma conjunta, até mesmo para um único tom. Essa ação conjunta restringe a resposta das células ciliadas ao som e como elas bombeiam energia para a membrana basilar. Com a descoberta, os cientistas esperam contribuir para uma melhor compreensão da audição de frequências baixas.

Para Tatiana Guthierre, otorrinolaringologista da clínica Inovox, em Brasília, as descobertas auxiliam na compreensão de como a cóclea responde a diferentes frequências, ajudando a melhorar aparelhos auditivos e o tratamento de perda auditiva, especialmente em frequências baixas — sons mais graves.

“A perda auditiva está cada vez mais prevalente, principalmente pelo uso constante e descontrolado dos fones. Essa descoberta poderá nos trazer mais ferramentas para que a prevenção de danos auditivos, e até mesmo o tratamento da lesão já existente, melhorem. O achado deve influenciar novas abordagens na biomedicina e na engenharia auditiva, seja no melhoramento de próteses, seja no desenvolvimento de procedimentos cirúrgicos no futuro.

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