12 de junho de 2025

Com aumento de evangélicos no Acre, padre diz que Igreja Católica precisa repensar sua forma

O IBGE aponta que o Acre segue a tendência nacional de redução da adesão ao catolicismo

O Censo Demográfico 2022 sobre religião, divulgado nesta sexta‑feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que, pela primeira vez, o número de evangélicos supera o de católicos no Acre.

O estado também apresenta a maior proporção de evangélicos do país, correspondendo a 44,38% da população com 10 anos ou mais, ou seja, 303.599 pessoas.

Dados foram revelados pelo Censo/Foto: Juan Diaz/ContilNet

No censo de 2010, a quantidade de evangélicos na mesma faixa etária era de 187.094. O aumento foi de 62%.

Por outro lado, o número de católicos caiu 10% entre os dois censos, ando de 298.270 para 266.329 pessoas em 2022.

O IBGE aponta que o Acre segue a tendência nacional de redução da adesão ao catolicismo.

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Para comentar o declínio no número de adeptos católicos, o ContilNet conversou com o padre da Diocese de Rio Branco, Massimo Lombardi. Ele afirma que o resultado é um alerta para que a Igreja repense sua atuação.

“Então, isso é um motivo para avaliarmos também o nosso trabalho, porque certamente alguma coisa não funciona, não é? Talvez a nossa maneira de falar, de divulgar, não seja a certa. Enfim, parece que a aceitação das igrejas evangélicas é maior entre a juventude, quer dizer, que os jovens provavelmente não encontram na Igreja Católica um linguajar que toque o coração deles, eu imagino. Talvez eles queiram uma igreja mais viva, dinâmica, tipo show, festiva. Eu acredito que tenha alguma coisa assim”, afirmou.

Padre Massimo Lombardi/Foto: Yago Ayache/ContilNet

Padre Massimo diz que, embora a Igreja precise repensar sua forma de evangelização, deve se manter próxima de Jesus. Para ele, Cristo não oferecia espetáculo.

“Enfim, a Igreja Católica tem uma liturgia sempre muito simples, muito enxuta, mesmo que não seja animada e participativa, mas destaca mais Jesus Cristo, que deu a sua vida, morreu, ressuscitou e está no nosso meio. O que Ele nos pede é fidelidade aos seus mandamentos e respeito ao Evangelho. Agora, a gente não pode falsificar essa apresentação, com um revestimento que não seja dos ensinamentos de Jesus, não é? E também, Jesus, quando pregava, não oferecia espetáculo”, pontuou.

Na visão do vigário, a modernidade faz com que muitas igrejas evangélicas ofereçam produtos como cura, saúde, riqueza, segurança.

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“Hoje em dia, certamente, pela cultura individualista e subjetivista da modernidade, para resolver problemas pessoais, as pessoas procuram nas várias igrejas evangélicas aquele produto, não é? Por exemplo, há uma igreja que oferece mais cura, saúde; outras, mais segurança; outras, mais riqueza, prosperidade. Visitando as várias igrejas, cada qual tem um produto de fé que atrai o ‘consumidor da religiosidade’. A Igreja Católica sempre apresenta Jesus Cristo, que morreu, ressuscitou, e pede que carreguemos a cruz, sejamos fiel na família, honestos no trabalho, e assim por diante”, acrescentou.

O padre acredita que a teologia da prosperidade tem contribuído para esse êxodo de fiéis em direção ao protestantismo:

“Agora, eu acredito que isso seja uma situação cultural, não é? De repente, amanhã muda e há uma reversão. Também vemos que, em nossas paróquias, às vezes, os movimentos como missa de cura e libertação lotam as igrejas. Missa das famílias também tem grande procura. Mas nos questionamos: o que oferecemos às pessoas, para facilitar? É uma promessa de prosperidade. Mesmo que algumas paróquias eventualmente façam algo parecido, há um número considerável de seguidores e participantes. Não podemos negar isso”, explicou.

Lombardi criticou a falta de formação de alguns pastores e ressaltou a importância de preparo para liderar uma igreja.

“Mas sempre há aquele receio, não é? Será que isso é propaganda comercial? ‘Venha, participe sete vezes e resolverá o problema da sua família’. Fazem corrente de oração dez vezes. São formas de propaganda religiosa novas, na nossa cultura. Quando cheguei ao Brasil, não era assim. Tinha as igrejas históricas, inclusive a Assembleia de Deus, mas muito mais discretas, valorizando a Bíblia e os costumes. Agora, com o neopentecostalismo, são igrejas sem direção central. Cada pastor age com mais força, liberdade e espontaneidade, conforme os desejos dos fiéis. Sei que até entre as igrejas evangélicas há questionamentos. Também há pastores que, após três meses, se tornam líderes sem estudo formal, apenas por carisma na fala. Entre eles, também há esse debate. Acredito que devemos fazer uma avaliação”, salientou.

O religioso reafirmou que a Igreja Católica precisa se aproximar mais dos jovens:

“Para ter uma linguagem mais acolhedora e clara com os jovens, por exemplo: eles precisam de uma liturgia, pregação que realmente os toque; uma forma mais animada, pulando, não sei. Mas precisamos ter cuidado para não descaracterizar a essência da Igreja e os ensinamentos de Jesus: ‘quem quiser me seguir, carregue sua cruz’”, completou.

O padre defende que a Igreja deve estar presente em vários espaços, como presídios e hospitais:

“Além da linguagem, precisamos marcar presença nos lugares mais esquecidos: presídios, hospitais, periferias da cidade. Faço isso nas comunidades, mas devemos estar também nas vielas da nossa cidade, onde a igreja matriz está longe. Esse é outro ponto de reflexão.”

Padre Massimo também comentou o aumento de adeptos de religiões de matriz africana no Acre, afirmando que o dado foi surpreendente.

“Realmente, no Acre, percebo que o que é mais popular ganha espaço. As religiões de matriz africana estão muito próximas do povo, têm grande liberdade litúrgica. Quando uma religião tem mais normas e burocracia, as coisas se complicam, e isso pode levar à decadência. Elas oferecem espontaneidade, e hoje o pessoal não gosta de regulamentos, mas de se sentir à vontade. Imagino que seja isso”, concluiu.

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