Larissa Riquelme estava na casa da avó Guillerma, em Assunção, no Paraguai, quando uma ligação do primo anunciou a mudança mais drástica de sua vida. Aos 25 anos, virou destaque nos jornais com uma única foto, famosa pelo celular guardado entre os seios, e foi nomeada Novia del Mundial. Era Copa do Mundo da África, em 2010, e o telefone da então modelo não parou mais de tocar.
– Falavam minha irmã mais velha, a mais nova, eu. Todas eram Larissa Riquelme no meu celular, porque era impossível atender todas as ligações – contou ela, em entrevista exclusiva ao ge.
A imagem rodou o mundo, transformando-a em fenômeno internacional. No Brasil, virou capa da Playboy, celebridade nas ruas e dona do título de “Musa da Copa”, sendo seu nome o termo que mais cresceu nas buscas do Google na época.
Quinze anos depois, com o conceito de “musa” em desuso, Larissa é convidada a uma reflexão sobre a própria história. Diz que perdeu dinheiro, guarda arrependimentos, mas acima de tudo orgulho. Aos 40 anos, é influencer, jornalista e dona de uma conta de conteúdo sensual no OnlyFans.

Larissa Riquelme durante a Copa do Mundo da África — Foto: Reuters
Olhar a história de Larissa Riquelme, porém, não cabe em uma visão limitada e reducionista sobre feminismo. Apesar de ter a própria imagem sexualizada ao longo dos anos e postura constrangedora de apresentadores em entrevistas, ela claramente vê o episódio da Copa como fundamental para uma mudança drástica de vida.
Ainda criança, acordava às 4h da manhã para vender comida com a irmã e conseguir pagar os estudos em uma escola só de meninas no Paraguai.

Larissa Riquelme acompanhando Paraguai 2 x 0 Uruguai em junho de 2025 — Foto: Arquivo Pessoal
Vendia empanadas, milanesa, em escolas, lugares do centro, salões de beleza. Aos 16 anos, ajudava minha mãe a fazer massa, pulseirinha para vender. Sabe a novela Maria do Bairro? Era como ela.
— diz a modelo, em referência a telenovela mexicana que conta a história de uma jovem humilde.

Larissa Riquelme — Foto: Infoesporte
Quando mais velha, fez desfiles em discotecas antes de ganhar espaço e começar a viajar como imagem de empresas no Paraguai, para programas de TV, até viver o auge com a foto na Copa do Mundo.
O registro, feito na Plaza da Democracia, em Assunção, durante a vitória do Paraguai sobre a Eslováquia, transformou-a na modelo mais bem paga da história do país, colecionando contratos e estampando a capa da primeira revista Playboy 3D no Brasil.
Encontrou assim sua forma de ser vista no mundo.
A foto está desde abril de 2025 exposta no Museu del Barro, em Assunção, entre outras quatro mil peças que narram a história da cultura paraguaia.

Foto de Larissa Riquelme exposta do Museu del Barro, em Assunção, no Paraguai — Foto: Museu del Barro
Fenômeno da noite para o dia, ela tinha 2.500 seguidores no Facebook, subiu para 100 mil no início da Copa e soma agora 1,6 milhão na mesma página. Fora as redes que não existiam na época. Calcula ter recebido mais de 135 ligações nos primeiros dias, ao ponto de não conseguir istrar o próprio celular.
Larissa evita falar em dinheiro. ite, porém, ter chegado a segurar pelo menos 100 mil dólares na mão e ter recusado uma oferta de 200 mil dólares para fazer a Casa da Playboy, por conta da necessidade de fazer um vídeo erótico.
– Foi uma oferta de muitos números, importante na minha carreira. E o que mais dava dinheiro, era melhor. Quando me ligaram, eu disse: é mentira. Chorava de emoção. Teve muitos zeros. Só dois números e muitos zeros – contou aos risos, em referência ao ensaio 3D de 2010, surpresa com a pergunta sobre valores do contrato.

Larissa Riquelme ensaio estádio Cerro Porteno — Foto: Reprodução/Twitter
Olhando para trás, se pudesse ter feito algo diferente, porém, gostaria de ter sido mais seletiva. Porque apesar dos altos contratos, Larissa não se viu livre de ver sua imagem usada de forma imprópria, em portais, programas de TV e até campanhas publicitárias das quais não estava sabendo. Por isso seu principal arrependimento: confiar demais.

Larissa Riquelme e a apresentadora Vanessa Gonzalez assistindo Paraguai 1 x 0 Chile, em março de 2025 — Foto: Arquivo Pessoal
Por conta das escolhas na carreira, é por vezes alvo de críticas, comentários sexuais e depreciativos. Algo que se tornou mais difícil de lidar especialmente após a perda da avó Guillerma, que morreu de câncer enquanto a neta estava em São Paulo fazendo as campanhas de divulgação da Playboy.
– Creio que foi um dos golpes mais duros que senti emocionalmente, porque não pude me despedir dela – disse Larissa, que precisou conviver com o luto enquanto lidava com as críticas.
– Sofro de problemas de tireoide, então falavam coisas sobre o físico, que estava magra, gorda ou até quando fazia aniversário – lembrou ela, que há alguns anos chegou a itir ter medo de envelhecer.

Larissa Riquelme em Paraguai x Venezuela na Copa América de 2011 — Foto: Marcelo Hernandez / Getty Images
Em uma hora de conversa, enquanto chega à rádio para apresentação do KaruShow, programa de culinária do qual faz parte no Paraguai, Larissa carrega empolgação na voz.
Conta que todo mês distribui chocolates para crianças com câncer e está cursando o último ano da graduação em jornalismo, depois de fazer um técnico em jornalismo esportivo. Quer se manter na comunicação. Ela é torcedora do Cerro Porteño e aos 14 anos jogava como atacante no clube, construindo assim sua relação com o futebol.
Às 21h45 desta terça-feira, o reencontrará mais uma vez. Larissa Riquelme vai à Neo Química Arena, em São Paulo, acompanhar Brasil x Paraguai, alimentando novas memórias com o esporte que moldou sua história.

Larissa Riquelme Paraguai Copa América Brasil Arena do Grêmio — Foto: Henry Romero/Reuters